Artigos de
Thaís Lúcia Machado da Silva Ramos
Senhor, o que queres que eu faça?
Thaís Lúcia Machado da Silva Ramos
“Outra luz lhe banha os olhos deslumbrados, e no caminho que a atmosfera rasgada lhe desvenda, vê surgir a figura de um homem de majestática beleza, dando-lhe a impressão de que descia do céu ao seu encontro. Sua túnica era feita de pontos luminosos, os cabelos tocavam os ombros, à nazarena, os olhos magnéticos, emanados de simpatia e de amor, iluminando a fisionomia grave e terna, onde pairava uma divina tristeza. (…)
– Saulo…! Saulo…! Por que me persegues? (…)
– Quem sois vós, Senhor? (…) – Eu Sou Jesus!… (…)
– Senhor, o que queres que eu faça?” (Xavier, F.C. Paulo e Estevão).
E no seu júbilo diante de tamanho sobressalto, Paulo de Tarso, como ovelha perdida do Mestre, antes perseguidor dos Cristãos, entregou-se em renúncia e amor ao convite do Rabi da Galileia. Por efeito desse encontro fez-se exemplo abnegado ao dedicar-se em todos os instantes da sua transformadora existência ao nobre trabalho da propagação dos ensinamentos de Jesus.
Devoção similar àquelas vivenciadas pelos apóstolos ao atenderem aos chamados de Cristo para seguirem Seus passos. Veemência amorosa refletida nas palavras de Levi quem “sem que pudesse definir as santas emoções que lhe dominaram a alma, atendeu comovido: Senhor, estou pronto!…” (Xavier, F.C. Boa Nova).
A maioria de nós, espíritos em evolução nesse interim de tantos desalinhos que se passa a humanidade, Jesus não se apresenta do mesmo feitio que fizera com seus discípulos quando encarnado na Terra. A semente da Boa Nova já fora plantada na nossa história, sendo desse modo oportuno sentir a força do amor irradiada de Cristo em inúmeras outras conjunturas. Dispomo-nos na advertência máxima da Doutrina Espírita, fora da caridade não há salvação, o roteiro seguro de reencontro com o Mestre. A cada alma que prestarmos auxílio, a cada irmão que dedicarmos o nosso tempo com nobres diálogos da fé e da coragem, a cada prece em proveito aos espíritos sofredores, estaremos continuamente perante a Jesus.
O cenário no qual se encontra o nosso Planeta roga além do confim das nossas aspirações que despertemos ao encontro de Cristo que nos estende as mãos com os olhos serenos e seguros dizendo: Venha! Convite para que sejamos os trabalhadores da última hora, soldados de Jesus, que auxiliará o globo submetido às leis do progresso nas suas transformações.
São chegados os tempos que imperam as grandes transformações do nosso orbe, no qual, intensos acontecimentos se darão para a regeneração da humanidade. Em toda parte, serão reclamados amparos sinceros aos irmãos carecendo de nós, conscientes das leis do amor, a coragem da fé para que caminhemos sob as águas das provações e da caridade, confiantes de que Jesus sempre estará conosco. O preço desse Amor e dessa Verdade para os discípulos de Cristo foi o martírio e a morte, contudo o mesmo não tem sucedido para nós além da constância do trabalho árduo do filho pródigo que retorna ao lar pronto para beber do cálice de fel de Jesus, filho esse que finalmente desperta conhecedor dos esforços indigentes que a obra reclama.
Busquemos a paz e o próprio consolo além das cegas fronteiras dos palácios de ouro, da vaidade, do orgulho e do egoísmo, lançando os passos corajosos na fraternidade dedicada aos nossos irmãos, repousando assim o pensamento no seio amoroso de Deus. Sem nos precipitarmos com as chagas desventuradas da necessidade de agradar a todos o que configuraria nada além da “marcha do caminho largo, onde estão as mentiras da convenção” (Xavier, F.C. Boa Nova).
Tomemo-nos as palavras de Francisco de Assis como nosso hino de transformação moral, rogando aso céus: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz”. Assim, santificando a nossa afeição, proporcionando aos irmãos a máxima da caridade e da alegria para que encontrem em nossos corações a sala iluminada pelo Mestre onde possam descansar tranquilos e ditosos. Em renuncia a esse amor verdadeiro, atenderemos ao chamado de Cristo, sem esperar recompensas além daquelas vindas de Deus. As mais belas horas da nossa existência serão sempre aquelas que empregarmos em amar os nossos irmãos, enriquecendo-lhes as satisfações íntimas repousaremos nos braços de Jesus.
Thais Lúcia Machado da Silva
O mundo está mudando, atravessando a sua época prevista em direção à era da regeneração. Em todas as nossas responsabilidades, vamos ao encontro do cotidiano de decisões e posturas de vida profundas que correspondem ao que desejamos para esta existência. Em face das situações críticas consequentes do nosso ritmo acelerado, e da vibração deste período de transição, muitos de nós somos impactados com complicações afetivas nas quais agimos mais pelos instintos associados à violência, tristeza, solidão. Desse modo, predominando condutas dispensáveis e perversas em contraste com a sociedade tecnológica, onde temos e buscamos cada vez mais, ainda que, paradoxalmente, estejamos vivendo no vazio existencial. Cenário que aduba o solo de dores psíquicas insuportáveis, nascendo frutos pandêmicos de transtornos depressivos, drogadições, sexo desvairado, transtornos de ansiedade, suicídios. A essa grande obra de separação do joio e do trigo, nos embraçamos às nossas emoções e tendências menos éticas trazidas de outras encarnações e somadas ao mundo atual.
No entanto, não obstante a máxima de desequilíbrio emocional, a interferência divina opera de maneira grandiosa, contribuindo para a regeneração da humanidade. Espíritos luminares de outras dimensões derramam a sua luz nas sombras terrestres, sussurrando aos ventos da esperança que não existe solidão para aquele que crê em Jesus, que todas as dores da alma são amparadas pelo Mestre, pois seu jugo é suave e leve é seu fardo.
Espíritos nobres e missionários caminham entre nós, assinalando o amor, a caridade, o amparo das nossas emoções e sentimentos, protegendo os nossos passos e inspirando as nossas escolhas, a fim de que possamos modificar as nossas paisagens aflitivas e acolher em nossos corações a conexão com o Criador.
Existe sombra, mas a luz também faz morada no nosso planeta, basta olhar com outros olhos para a nossa humanidade, consolados pela vida futura e confiantes de que a vida pode ser mais gentil do que tem sido apresentada a nós.
Distinguem-se o avanço de variadas terapias integrativas que nos auxiliam a ocupar outra faixa vibratória, sintonizando a nossa mente com o bem, tornando-nos mais sensíveis ao amor e às nobres condutas que caminham de forma sutil ao nosso redor. Terapias que acrescentam ao Evangelho de Jesus roteiro perfeito, a leveza, o equilíbrio e a alegria que buscamos.
Ao acolhermos a chama da esperança declamadas nas bem-aventuranças e nas parábolas de Cristo, venceremos todos os obstáculos, seguros dos nossos talentos e potencialidades que alicerçam a nossa colheita fadada às estrelas, embora ainda transitemos por solos empedrados ou charcos perigosos, alerta-nos a Doutrina Espírita (Luz nas trevas, Joanna de Angelis).
Lembremo-nos sempre de que o Reino dos Céus dentro do coração será a conquista do mais precioso tesouro da nossa existência (Luz nas trevas, Joanna de Angelis), pois ainda que andemos com as nossas emoções perdidas nos vales da sombra e da morte, Jesus está conosco, acordando em nós o nosso potencial para a felicidade.
Ninguém é mais fraco por sentir mais dor ninguém é mais incompetente por sentir-se sem chão, somos todos filhos de um Só Pai, nós e nosso Pai somos um, a essência do Criador. Paira em nossa Terra a nossa Mãe Santíssima que vem dos planos mais altos consolar todos os corações aflitos. Se se fere com espinhos, com mágoas incompreendidas e sem fim, chame por ela, ore por ela, nossa Mãe que cobrirá qualquer dor com seu amor puro e terno, o qual todos somos merecedores de receber.
“Confia e vai em teu caminho de paz. Nada é tão gratificante do que ver alguém submergindo da escuridão apenas por haver acreditado na existência da luz Ela sempre esteve presente. Era só abrir os olhos” (Francisco de Assis). Não estamos sozinhos. O mundo não é só sombra. Vale a pena viver. Vale muito a pena viver.
Maternidade, da sombra à luz do mundo
Thaís Lúcia Machado da Silva
Mas insisto em dizer que nós, as mulheres transformadas em mães, temos a obrigação de empreender um caminho de questionamento profundo. É verdade que é difícil se transformar em mãe. É verdade que representa uma crise pouco conhecida socialmente. Mas, também é verdade que somos adultas…
Laura Gutman
Quando nós aceitamos a missão da maternidade concedida por Deus, não temos a real clareza do que ela representará em nossas vidas no que tange às renúncias, ao reencontro com a própria sombra, às transformações e ao amor, de tal modo que partir do instante no qual um filho nasce, a mulher renasce e nasce uma mãe. Imersas na preocupação materna primária, por um período nos esquecemos e nos perdemos para nutrir o nosso pupilo em uma relação fusionada essencial para o desenvolvimento da criança. Em face dos primeiros dias, da fase do puerpério e alguns meses adiante, a mulher apresenta-se como mãe-bebê até o instante em que vamos nos redescobrindo como mulher-mãe frente a inúmeros lugares que ocupamos na família e na sociedade.
O fato é, que neste período de desencontros e reencontros com a nova identidade, a criança internalizada da própria mãe emerge aliada aos conflitos mal resolvidos da sua própria infância. Identificadas com o bebê, projetamos nossos desejos de mãe ideal e seguimos com a postura descrita pelas cobranças, medos, incertezas, culpa e intolerâncias, somados ao reencontro entre duas almas eternas com afetos ou desafetos. Respondemos aos dias de sombra que podem ser devastadores, incompreensíveis pelos familiares e dolorosos, podendo levar algumas mães ao questionamento da sua capacidade natural de acolhimento e ternura. Entretanto, “desarma-te das preocupações afetivas, anula na mente os insucessos vividos, esquece as angústias e a ingratidão, e deixa que o amor te dê vida” (Joana de Angelis, Luz nas Trevas).
Empoderadas com a força deste amor, acolheremos a verdade de que a nossa vida nunca mais será a mesma, será suprema, o casamento não será similar ao que era no passado, será melhor, o tempo não terá a mesma duração, será maior, e nós não nos reconheceremos naquela antiga mulher, pois seremos mais, muito mais. Preenchida por esse amor nos reencontramos em nosso lugar, nós acolhemos e descobrimos que a nossa existência tinha menos sentido antes da maternidade, nos adaptamos cientes de que temos a potencialidade moral de alcançar lugares antes inimagináveis. A nova mulher aparece e enriquece a vida do lar, da família e da sociedade. O filho, então, pode entregar-se a essa nova mãe, ser aceito por ela conservando a experiência de relacionamento mais intensa e fundamental que se pode ter (Berth Hellinger).
Mais conscientes de nós, compreendemos que por mais complexa que seja a tarefa da maternidade, por maiores que sejam as limitações que nos apresente, Deus jamais nos localizaríamos nesta missão se não houvesse um grande programa renovador ou reeducativo para nós. “Deus não submete a provas aquele que não pode suportar, apenas permite as que podem ser cumpridas” (O Evangelho Segundo Espiritismo, capítulo 14).
A mulher tem força, muita força, basta nos permitir mudar, evoluir com fé e coragem diante da missão divina da maternidade, curar a nossa criança interior ferida, declarando diariamente que “a maior força do universo é o amor” (Albert Einstein). Assim, constataremos que “a tarefa não é tão difícil quanto poderíeis pensar; ela não exige o saber do mundo; tanto o inculto quanto o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, fazendo-nos conhecer a causa das imperfeições da alma humana” (O Evangelho Segundo Espiritismo, capítulo 14). À luz da Doutrina Espírita, redescobriremos o nosso próprio jeito de iluminar as trevas do mundo com o amor, mostrando aos nossos filhos que a felicidade depende de como decidimos sentir, perceber e viver a vida. Se um dia o nascimento do filho refletiu a nossa sombra, o nosso amor de mãe por eles ecoou a nossa luz ao mundo.
A necessidade do silêncio nos dias atuais
Thaís Lúcia Machado da Silva
O atual cenário da nossa Pátria amedronta a maioria dos corações de tal forma que não sintonizar com as vibrações de tristeza diante das catástrofes, de desesperança frente a violência e desigualdades sociais pede constante vigilância. A atmosfera do nosso planeta passa por um período denso e a nossa terra segue cada vez mais adoecida, libertando-se do estágio de mundo de provas e expiações rumo à evolução como planeta de regeneração. Em meio aos barulhos, frutos da desarmonia, o nosso psiquismo vai se enfraquecendo, recorrendo a mecanismos de defesas insalubres, e assim, articulamos novos problemas, agimos com indisciplina, precipitações, nos desesperamos em inquietudes e arrasadoras tempestades emotivas. A este respeito, Manoel Philomeno de Miranda, em o livro Transição Planetária, psicografado por Divaldo Franco, assinala a época que estamos vivendo como o caos espiritual que convida o ser humano a mudanças de comportamento para que se instalem os hábitos do dever, da ordem, do amor e do silêncio.
Ouvir em meio a tantos barulhos associados às reclamações, descrenças, gritos e angustias, desrespeitos ao próximo, intolerância no trânsito não tem sido fácil para tantos que se esforçam em iniciar um dia em prece, mas que se perdem e se misturam a essa faixa vibratória que carece de fé. Para tanto, entre nós, ocidentais, tem-se adquirido cada vez mais o hábito da meditação, prática oriental que deveras tem fundamental importância para o cultivo do silêncio.
Shotaro Shimada, um dos precursores da Hatha Yoga no Brasil, considera como a meditação o estado absoluto de realização infinita, oportunidade de comunhão com Deus. Em suas reflexões relativas aos hábitos dos ocidentais reconhece que “nossa mente é tudo… O fato é que precisamos mudá-la, pois depende de nós mesmos sermos felizes e infelizes… É justamente essa mudança de pensamento que se chama de meditação e que, na realidade, é um controle mental”. Sentar, alinhar a coluna, silenciar e meditar é um caminho para a verdadeira condição de meditação essencial nos dias atuais, no entanto, reconhecemos que a verdadeira postura silenciosa que permite a sintonia constante com os nossos bem feitores vai muito mais além. Meditemos diariamente e sigamos o restante do dia com o controle mental adquirido nesta prática, ouvindo as inspirações dos amigos do plano espiritual e brilhando a nossa luz em forma de serenidade composta de esperança e amor.
Ao nosso lado, a misericórdia de Jesus em favor do planeta se faz presente através de seus Anjos os quais intercedem por nós para que não percamos a oportunidade de renovação, como nos ensina Mércia Aguiar, em seu livro Projeto Dois Corações. Da nossa parte, a postura disciplinada, constantemente vigilante e em prece é fundamental para que a ebulição de conflitos de toda ordem não conduza o nosso dia. Conduta capaz de expandir da nossa alma essa luz que nos protegerá, acalentará nossas dores, amparará nossas dúvidas, permitindo, assim, que haja o silêncio composto pela perfeita comunhão com Deus.
O silêncio é uma prece, uma semente que merece ser cultivada em nossos corações para ouvirmos as sugestões dos Anjos e evoluirmos a cada dia, percebendo que o Brasil vai-se encontrar com as vozes do amor, colorido por novos sonhos e pelas nossas atitudes de quem decidiu silenciar em meio ao caos, ouvir o Alto em cada passo e evoluir ao lado do próximo que tanto necessita de nós.
No meu silêncio
Eu me encontro
E encontro com Deus
A minha alma se encanta
E se une aos filhos Seus
Em ecos da esperança
Milhões de corações, em um só
Deus me cobre com suas bênçãos
Eu me entrego
Me integro
Em vales floridos, eu medito
E deixo-me levar pela verdade
Que se espalha em vibrações de amor
Na fé de um mundo com mais ternura
E menos maldade
Coloridos de bons sentimentos
E menos sofrimento
No meu silêncio
Eu me reencontro
Liberto da sombra
Com a luz da esperança
A minha alma se encanta
E desperto com Deus.
As virtudes em família diante do desencarne iminente
Thaís Lúcia Machado da Silva Ramos
Carta dos meus últimos dias
Não olhe para mim como um moribundo
Tenho sonhos, desejos, vontades
Tenho conflitos…
Tenho sede, sono, frio.
Busco a verdade!
Busco alguém que não me coloque no bolso
E me esqueça
Que não olhe para mim com olhar de pena
Busco alguém que ao ver-me não faça alvoroço
Mas, que nos seus olhos traga a paz
Que me toque sem receio, nem nojo
E que queira me ver de novo, e de novo.
Às vezes, choro sem lágrimas
Outras vezes, grito sem voz
E quando a dor toca no fundo da minha alma
E eu luto contra esse algoz
Traga-me o seu lenço da fé e esperança
E ouça o meu silêncio sem pesar
Não preciso da escuridão do seu sofrimento
Busco alguém que consiga me amar.
Preciso da palavra que consola
Do remédio contra a indiferença
Daquele que me olha nos olhos e não ignora
Que eu sonho com aquele dia na cachoeira
Com aquele casamento que nunca existiu
Sinto saudades de quem foi embora
E nem se quer se despediu.
Não venha falar-me no que deixei de ser
Ou daquilo que nunca serei
Fale apenas o que eu realmente precise escutar
Converse sobre tudo o que eu tenha que saber
E não me exclua da vida lá fora
Mas, seja suave com o que possa doer.
Também não tema ser alegre perto de mim
Preciso do seu sorriso, da sua vontade de viver
Que os nossos encontros tenham começo, meio e fim
Para que no dia em que eu partir
Tenha a sensação de que me despedi.
Nesses últimos dias da minha vida
Até as últimas horas que me resta
Dê-me a sua mão assim, sem tanta pressa
E eu retribuirei com o adeus cheio de gratidão
Desse quem viveu bem o fim da vida
Graças a você que olhou dentro dos meus olhos
E cativou o meu coração.
Ante as provações da vida na Terra, incluindo o temor da morte, exposto também entre os espíritas, pondera-se primordiais as virtudes como coragem, esperança, fé na vida futura e aceitação, apoiadas na fé raciocinada instruída em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo cinco, ao atestar que “se meditássemos melhor o porquê das dores que vos atingem, encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e vossos míseros interesses seriam uma consideração secundária que desprezaríeis ao último plano”. Não obstante, na escala evolutiva em que a maioria se encontra encarnada neste planeta, apesar de discernir a existência futura, sentimentos e falhas materialistas ainda são tomados perante o desencarne iminente próprio ou de algum familiar. De maneira que a certeza do porvir e do reencontro com os corações amados após a morte não seja o suficiente para enfrentar esta separação de forma saudável psiquicamente.
A família, composta por inter-relações, vivencia a doença ou a ameaça de morte de forma sistêmica atingindo todos os membros familiares o que resulta em mudanças emocionais profundas além de alterações no padrão de interação, regras e responsabilidades de cada um. Quando desaba a notícia da proximidade do desencane ou da morte súbita na família, o tempo trabalha, quase sempre, ainda negativamente no grupo dando lugar as suspeições de culpas que são transferidas entre um e outro. O que gera, segundo o espírito Joana de Angelis, em seu livro Constelações Familiares, psicografado pelo médium Divaldo Franco, situações ainda mais graves decorrentes do conflito que não foi devidamente enfrentado. Nesses casos, é comum o afastamento do casal, por exemplo, que se culpa entre si, ainda que de forma inconsciente, sobre a doença terminal ou da fatalidade do filho.
Para a mesma autora, em tais circunstancias, mais do que nunca, “os membros da constelação familiar se devem apoio mútuo, entendimento recíproco tendo em vista que alguns deles são mais frágeis emocionalmente do que os outros”. Além de constatar a contribuição religiosa para o momento como fundamental, pois proporciona a busca por Deus mediante a oração, a meditação, o estudo do Evangelho e os diálogos fraternos, assim reunindo forças para superar a separação que se aproxima. Essa que se discorre apenas sob a ótica materialista, já que os bem-amados estão perto dos seus. Livres do envoltório corporal, os seus corpos fluídicos rodeiam seus pupilos, seus pensamentos os protegem e as lembranças positivas que a família nutre os enchem de felicidade.
Diante do desencarne iminente, a prece sustenta a coragem para as despedidas, da qual os Anjos respondem ao derramarem sobre esse ato de amor a esperança do reencontro e a força para olhar nos olhos do ente querido e dizer adeus. Cada palavra vibrada em paz a favor do bem-amado em oração à Deus para que o abençoe é como bálsamo de luz que o fortalece. Dessa postura de bondade é possível sentir em quem fica na matéria as consolações poderosas que secarão as suas lágrimas e a fé que mostrará o futuro prometido pelo soberano Senhor. Para que no momento em que a saudade bater as portas dos corações, consiga-se ouvir e sentir no silêncio do pensamento edificante, com a permissão do querido Jesus, o oásis por meio da frase: “Estou bem, em paz, amparado pelos bons espíritos. Na certeza de que o tempo jamais separará dois corações unidos pela eternidade. Em breve nos reencontramos nos mais belos vales espirituais e eu retribuirei as suas preces com meu mais doce abraço de gratidão”.
Ainda assim, do mesmo modo que a despedida coroada pela esperança do reencontro é consolo edificante, “as nossas dores insensatas os perturbam, pois elas denotam a falta de fé e são uma revolta contra a vontade de Deus”, assim ensina a obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo cinco. Como orienta o médium Raul Teixeira, em entrevista ao programa Transição, o reencarne é o nascimento para a vida material, do mesmo modo que o desencarne é o nascimento para a vida espiritual. Porque não tentar suportar as experiências a mesma maneira? Quando um bebê nasce, é necessário mantê-lo em terno aconchego, em silêncio, sem gritarias ou alvoroços, para que nada disso incomode a criança. Igualmente, é fundamental agir assim em face do espírito prestes a se deligar do corpo. Choros são esperados, em virtude da saudade salutar daquele que se vai, todavia, a revolta, a movimentação espalhafatosa, os diálogos repletos de incredulidade e desespero perturba o espirito que retoma as esferas espirituais.
“O Espirito é sensível à lembrança e aos lamentos daqueles que amou, mas uma dor incessante e irracional o afeta dolorosamente, porque vê nessa dor excessiva uma falta de fé no futuro e da confiança em Deus e um obstáculo ao adiantamento dos que choram e, talvez, o reencontro de todos”, assim complementa a resposta a questão 936 de O Livro dos Espíritos. A postura positiva e serena deve permanecer inclusive nos velório e enterros, ainda experimentados por tantos como oportunos a difamação do finado ou pontos de encontros propícios para as conversas serem colocadas em dia. Nessas ocasiões preservemos a prece e o respeito pela família acima de tudo.
Além de saber se comportar sobre o que e como falar é esperado que se saiba ouvir. As portas do desencarne, ou mesmo à velhice avançada, o agonizante ainda tem sentimentos que precisam ser aceitos e desejos que necessitam de atenção. Fundamental, então, a doação do tempo paciente para quem retorna à pátria espiritual, pois mediante a escuta bondosa, a palavra consoladora e a companhia edificante, o desencarne se envolve de esperança. Sentimento esse que pode ser revigorado na Doutrina da Consolação ao confortar os corações mediante a instrução da certeza da vida futura que possibilita o reencontro nas esferas espirituais. A esperança ilumina a escuridão das imperfeições ao lidar com a separação e vivifica as virtudes no momento do adeus.
Recorda-se sempre da reposta da questão 936, de O Livro dos Espíritos, ao afirmar que com o Espiritismo não há mais solidão, não há mais abandono. Ao suportar com coragem essa legitima dor, sabendo silenciar os lamentos, reinará a felicidade ao espírito que sair desta prisão terrestre, como o paciente que encontra o júbilo e a cura após ser submetido ao tratamento, na maioria das vezes doloroso, chamado vida.

Thaís Lúcia Machado da Silva Ramos
O amor pode ser encontrado em versos e prosas.
Ou num simples ramalhete de rosas.
É mistério profundo, alegria.
Que não se esvai ao fim do dia.
É pureza, união, esplendor.
É atitude sincera em cor.
É passado, futuro, presente.
É jóia rara incandescente.
O amor pode ser encontrado na amizade sincera.
Ou numa simples prece singela.
Na palavra que acolhe e consola.
No olhar que contém e não ignora.
É arma certeira à felicidade.
É luz que ilumina à serenidade.
Está na fé, sabedoria, abnegação.
Nas graças e atitudes de resignação.
O amor pode ser encontrado no gesto simples de um sorriso.
Esperança ao coração aflito.
No abraço que envolve e renova.
Na educação que guia e transforma.
Nas pequenas atitudes de gentilezas.
Que refaz e remove as fraquezas.
Daquele irmão hoje mais necessitado.
Que anseia pelo dia que será amado.
O amor pode ser encontrado na devoção para com Deus.
Que cuida, desse daquele, do meu.
Coração que anseia em compreender.
Comunhão sublime que hei de perceber.
Em Jesus, o caminho, a verdade e a vida.
Luz do mundo, sublime e bendita.
Que trouxe aos seus irmãos o maior mandamento.
Amar a Deus, a mim e ao próximo em sofrimento.
O amor pode ser encontrado na caridade sincera.
Na aceitação e renúncia que espera.
O dia sublime que essa jóia há de prevalecer.
As famílias e o mundo hão de reconhecer.
Que amando uns aos outros chegaremos à evolução.
Trabalhando juntos e exercendo o perdão.
Vencendo a inveja, ambição e a maldade.
O amor. Mais forte que o orgulho e a vaidade.
O amor é dom supremo, caminho da redenção.
Paciente, benigno em conveniente condução.
Não é egoísta, nem se ressente da maldade.
Não se alegra com a injustiça, regojiza-se com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê e tudo sabe suportar.
Maior do que todos é o ato de amar.
Sem ele nada seria a humanidade.
Com ele, plenitude, paz e fraternidade.
No amor são tantas as formas.
Sorte daquele que procura e que olha.
As estrelas em busca da sua forma de amar.
Que aceita o convite Divino à renovar.
Atitudes da sombra à transformação.
Que sente o poder da Doutrina da Consolação.
Evangelho de luz, serenidade, esplendor.
Guia sublime. Evangelho de amor.
Thaís Lúcia Machado da Silva Ramos
Certo dia, Jesus desceu a Terra
Trazendo em seus braços uma criança
Que seria eterna…
Eternamente criança, cuja esperança
Brilhava em seu rosto menino
Sorrindo, brincava nos braços de Jesus
Coroado pelos Anjos
Tão belo… Cujo encanto
Emanava forte entre as árvores
Que sorriam de alegria
À espera daquela criança
Que se balançaria em seus galhos
Ouvindo os sinos de Ave Maria
Cuidadosamente, em Feira de Santana ele nasceu
Nos braços da mãe, D. Ana, que o acolheu
Como o seu décimo terceiro filho
Jesus, então, despediu-se daquela criança
Abençoou os seus passos
E retornou aos céus
De lá, Ele ainda o acompanha sorrindo
Sorri de quando fala e de quando se cala
Sabe que na mente daquela criança
Existe o desejo de voar
Voar além dos cajueiros da infância
Cujos galhos abrigavam as suas orações e brincadeiras
Sempre ao lado de um doce e pequenino
Querido amigo, o indiozinho
Que dividia o espaço entre os perfumes dos jasmins
Ao rolarem nos capins
Tudo brincadeira de criança…
Sob os aplausos das mamoeiras e cajazeiras
Elas sabiam que aquele pequenino
O querido indiozinho
Fazia parte da mediunidade da criança
Que logo descobriu
Que aquele com quem tanto sorriu
Era um nobre e doce espírito
Que seria para sempre, o seu grande amigo
Que doce criança…
Desde cedo trabalhou
Tantos irmãos aconselhou
Ainda menino…
Quando o imagino nessas terras
Vida simples, tanta modéstia
Penso nas riquezas que o cercava
Riquezas dos anjos de Jesus
Que nunca o deixaram sozinho…
Mesmo entre as dores e os pesadelos
Daqueles que o faziam chorar de tanto medo
Ele podia contar com o seu grande anjo
Que o acolhia em seus braços
Contento o seu cansaço
E o ensinava a conversar com Deus
Ana, um anjo em forma de mãe
Entre músicas invisíveis ele foi crescendo
Novos sonhos foram nascendo
Ao lado do seu pai que com tanta dedicação
Deu a ele nobre educação
Cuja disciplina, renúncia e paciência
Deu asas a um grande professor
Um grande trabalhador…
Trabalhador de Jesus
Que logo escolheu seguir a Doutrina Espírita
E que mesmo entre as dificuldades da vida
Desafios, professores mascarados e desencontros
Nunca deixou de sorrir a creditar
Para mim, uma eterna criança…
Que sempre escolherá o verbo amar
Vindo dele, foram tantas as conquistas
Não há como por em medida
Tantas palestras, tantos livros, tantos filhos
Filhos da Mansão do Caminho
Sempre amparado pela nossa querida Joanna de Ângelis
Que o guia, dita os livros e o orienta
Ela sabe o que precisamos escutar
Ele sabe como a nós orientar
Fala com tanta devoção
Ensinamentos de amor, da nossa Doutrina da Consolação
Inspiração que nos envolve, emociona e acalma
Faz-nos seguir mais leve. Com mais fé…
Um anjo com certeza
Que cresceu em meio à natureza
Apaixonado pelas flores e por todos nós da humanidade
Exemplo de humildade
Que segue sempre, sempre sorrindo…
Pai do coração, avô, um grande amigo
Para mim, o querido Tio Di
Sei que é Di na intimidade
Quem sou eu para chamá-lo assim?
É que meu coração pulsa de saudade
Desse anjo que só de longe conheci
Mas que sou grata por cada palavra
Dessa eterna criança…
Luz de esperança
Que brilha no seu coração de orador
Mostrando ao mundo que não importa quanto tempo passe
Ele sempre optará pelo Amor.

