Artigos de
Juliano Pimenta Fagundes
Juliano Pimenta Fagundes
Sei muito bem que este título poderá gerar estranhamento a quem passar por este texto. Muitos, o repudiarão mentalmente antes mesmo de ler a matéria em si: “Discordo!”. Mas, enfim, é necessário que falemos desse imenso dilema que se instaurou entre os seres humanos pensantes, desde o século XVIII.
Àquela época o mundo nos apresentou “pensadores” como Voltaire, Diderot, Holbach, Spinoza e outros, contumazes críticos dos fundamentos religiosos e defensores de uma visão do mundo baseada na razão, na ciência e na liberdade de pensamento, de forma que o ateísmo tornou-se mais claramente articulado, consolidando o ceticismo em relação às crenças religiosas.
Com o passar dos anos, outros homens “de razão” tornaram-se famosos por desdenhar de Deus. No século XIX, o filósofo niilista Friedrich Nietzsche, famoso por declarar “Deus está morto”, desempenhou um papel importante na popularização do ateísmo filosófico (uma espécie de ateísmo “erudito”), desafiando as noções tradicionais de moralidade e transcendência (Allan Kardec foi um crítico ferrenho do pensamento niilista, como pode ser visto no Capítulo 1 da obra O Céu e o Inferno).
E se já não bastasse o ateísmo estar causando estragos suficientes ao conhecimento humano, as coisas pioraram com o materialismo dialético trazido por Karl Marx, na tentariva de “matar” em definitivo todo tipo de espiritualidade que ainda pudesse existir na humanidade, ironizando: “A religião é o ópio do povo”.
Se Nietzsche não acreditava em “verdade”, Marx acreditava que a verdade era somente a matéria palpável. Não é sem razão que o grande autor espírita clássico Léon Denis escreveu que Marx instaurou na humanidade a era do “materialismo brutal”, encerrado numa luta de classes desprovida “de generosidade e de grandeza” e que “só leva à precipitação e ao esmagamento de uns pelos outros” (Socialismo e Espiritismo, capítulo 4).
Adentramos, então, o século XX com péssimas perspectivas para a fé humana. Mas eis que surgem, então, alguns notáveis pesquisadores, que lançaram fortes luzes sobre os mais profundos aspectos da essência humana. Esses homens não eram teóricos absortos em elucubrações, como Marx ou Nietzsche, mas sim vivenciadores da experiência humana, que foram a campo para entender: o que é ser humano?
Para não me estender muito, vou citar aqui apenas três desses incríveis estudiosos.
O primeiro deles foi o antropólogo Bronislaw Malinowski, pai do funcionalismo, que, após viver dois anos entre os habitantes das Ilhas Trobriand (um arquipélago no Pacífico pertencente à Papua-Nova Guiné), escreveu o importantíssimo Os Argonautas do Pacífico Ocidental. Ainda viveu entre vários grupos da região da Melanésia e, após uma vida dedicada à investigação de campo, concluiu de que nossas crenças e práticas religiosas servem à manutenção da coesão social e, principalmente, para atender a uma necessidade humana latente.
Outro importante antropólogo foi o francês Claude Lévi-Strauss, famoso por viver entre várias tribos brasileiras. Pai do estruturalismo, descobriu que estruturas mentais universais moldam religiões, mitos, rituais e vários outros aspectos das sociedades humanas, de forma que todos compartilhamos padrões estruturais comuns, como a necessidade de uma religião.
Por fim, cito Mircea Eliade, um dos mais importantes historiadores das religiões e filósofos do século XX, que descobriu ser a religião um fenômeno universal, presente em todas as culturas humanas, independentemente do tempo ou do lugar. Após viajar pela Índia, África, Europa e Ásia, estudando vários povos primitivos, entendeu que a religião é uma parte essencial da experiência humana, estando profundamente enraizada na busca do homem por sentido e transcendência.
O mais curioso é que os espíritas do século XIX já tinham em mãos resultados semelhantes aos encontrados por Malinowski, Lévi-Strauss e Eliade, trazidos à lume por outro grande pesquisador de campo: Allan Kardec. Em O Livro dos Espíritos, na Lei de Adoração (Parte Terceira, Capítulo II), ele já havia publicado a informação de que a adoração é um sentimento “inato, como o da existência de Deus”, e que nunca houve povos ateus, pois todos compreenderam “que acima de tudo há um Ente supremo” e que a “adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por essa razão, existe entre todos os povos, ainda que sob formas diferentes”.
Não sei vocês, leitores e leitoras amigos, mas eu sinto uma alegria imensa toda vez que vejo uma informação doutrinária ser comprovada pelos cientistas contemporâneos (e ainda refutando pensadores teóricos nada práticos).
Agora que contextualizei o tema presente, é hora dizer o que eu queria desde o começo: não podemos normalizar o ateísmo! E mais: não podemos defender o ceticismo em nossas exposições espíritas.
Segundo aprendemos na Lei de Adoração, o ateísmo é antinatural: o natural é adorar a Deus. E quando o ateísmo domina a razão do ser, ele continua compelido, mesmo que inconscientemente, a buscar o sagrado e o transcendente. Segundo os antropólogos citados anteriormente, o ser humano que não vivencia sua religiosidade ou não se filia a uma religião, é como um ser castrado de uma parte de sua essência humana. E isso causa sérias distorções na maneira como esse ser humano se relaciona com a realidade. Vou citar alguns exemplos.
Há pessoas sem uma fé religiosa arregimentada, que se sentirão impelidas a buscar a transcendência e o sagrado nos aspectos culturais da existência, colocando sua cultura acima de tudo. Para outras, essa busca passa pela valorização étnica, e, em todas as questões, colocarão sua etnia em primeiro lugar, pois existe uma pseudo transcedência nos aspectos culturais e étnicos que vai passando de geração a geração.
Outras pessoas, sem valores transcendentais reais, acabam por voltar fortemente o olhar para si mesmas, como algo sagrado, chegando ao extremo do egocentrismo narcisista e investindo todos os seus esforços em readequações e mutilações físicas sob o pretexto de buscar a “felicidade”, atendendo ao imperativo de uma autoimagem criada alhures.
Jesus foi claro ao afirmar: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará” (Mateus 16:24-25). E destacou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6).
Sob outro aspecto, presenciei muitos irmãos de doutrina afirmando que “não é necessário a uma pessoa ser espírita, na verdade não é nem necessário ter uma religião, basta fazer a caridade e ter um bom coração, para se ter uma vida futura feliz”.
Tais pensamentos questionáveis podem estar contribuido com o esvaziamento das atividades espíritas, tanto de trabalhadores quanto de frequentadores e têm enchido as reuniões mediúnicas de irmãos desencarnados que vêm, ora nos pedir para “abraçar a causa cristã com todo o amor que tivermos”, ora reclamar que “ninguém me avisou que existia vida após a morte, que era importante ser um cristão verdadeiro e por isso padeço sofrimentos atrozes”.
E, sobre isso clamarei por Allan Kardec em meu auxílio:
Ministrando a prova material da existência e da imortalidade da alma, iniciando-nos em os mistérios do nascimento, da morte, da vida futura, da vida universal, tornando-nos palpáveis as inevitáveis consequências do bem e do mal, a Doutrina Espírita, melhor do que qualquer outra, põe em relevo a necessidade da melhoria individual. Por meio dela, sabe o homem donde vem, para onde vai, por que está na Terra; o bem tem um objetivo, uma utilidade prática. Ela não se limita a preparar o homem para o futuro, forma-o também para o presente, para a sociedade. Melhorando-se moralmente os homens prepararão na Terra o reinado da paz e da fraternidade. A Doutrina Espírita é assim o mais poderoso elemento de moralização, por se dirigir simultaneamente ao coração, à inteligência e ao interesse pessoal bem compreendido” (Grifos do autor) (Obras Póstumas, Parte 2, Capítulo 38).
Assim, encerro este texto chegando a uma conclusão óbvia: o ser humano precisa da religião. Ou melhor, é a religião que nos faz seres humanos de verdade (e, se for a religião espírita, melhor ainda).
Juliano Pimenta Fagundes
Recentemente, enquanto coletava dados para mais um livro, fui deparando-me com informações, das mais variadas fontes, que comprovavam inexoravelmente as palavras de Allan Kardec na questão 793 de O Livro dos Espíritos: “A medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral”.
Todas as estatísticas, a nível mundial, apontam para uma melhora em todos os sistemas existentes! Nunca houve no mundo tão pouca fome, tão poucas epidemias e tão poucas guerras. Ainda as há, mas em declínio incessante. Estamos mais organizados e conscientes.
Em 2012 cerca de 620 mil pessoas morreram em razão da violência, mas segundo dados da OMS, o excesso de glicose no sangue mata mais de 3 milhões de pessoas todos os anos. Hoje, está mais fácil morrer empanturrado de sanduíches do que de fome ou pela violência.
A Ruanda empreende uma guerra sem fim ao Congo, por um negócio de Coltan de 250 milhões de dólares, mas a China ganha bilhões como fruto da parceria com grandes empresas da tecnologia de ponta, comprando softwares e fabricando produtos. Um comércio honesto, pacífico e ordenado, sem invasões. A humanidade está percebendo que a paz é mais vantajosa em todos os aspectos.
A cromoterapia e a fotografia kirlian são terapias reconhecidas pela OMS e, no Brasil, o SUS já dispõe de 29 tipos de práticas integrativas, como a acupuntura, a auriculoterapia e a yoga. As pesquisas do Dr. Bruce Lipton, autor da Biologia da Crença, comprovam que 32% das pessoas são passíveis da autocura, graças ao efeito placebo, ou seja, no meio científico já se sabe que a mente pode dominar a biologia corpórea.
Obras como Transição Planetária e Renascer de uma Nova Era, escritas por Manoel Philomeno de Miranda e psicografadas por Divaldo Pereira Franco, revelam que estão nascendo entre nós espíritos advindos de outras galáxias como intuito de trazer avanços morais e materiais. Mas, como nós, não são perfeitos e precisam ser educados, pois ainda são passíveis de queda.
Mas essa procedência externa de espíritos ocorre em menor grau. A procedência interna é que ocorre em maior grau, nós mesmos encarnando de retorno, mais experientes e mais conscientes de nossos deveres.
As novas” mentes já estão mudando o mundo em várias frentes, mas para perceber isso precisamos sair da influência da grande mídia, que não raro é cética e sensacionalista e buscar fontes de informação e pesquisa sérias, mas que, infelizmente, não ocupam as manchetes dos noticiários mais badalados.
Um bebê nascido hoje terá 30 anos por volta de 2050. Se tudo correr bem, ele poderá estar por aí em 2100, podendo ser um cidadão ativo no século XXII. O que deveríamos ensinar a esse ser humano que o ajude a sobreviver e progredir até o próximo século? De quais habilidades ele vai precisar para conseguir um emprego, compreender o que está acontecendo a sua volta e percorrer o labirinto da vida? Antigamente, quando chegávamos aos 20 anos de idade, já havíamos vivido, em tese, metade de nossa existência na Terra, e se chegássemos aos 40 seríamos vitoriosos anciões. Jesus desencarnou com 33 anos num tempo onde apenas os mais privilegiados viviam mais de 40. Atualmente, aos 40 anos contamos que vivemos metade da vida.
Allan Kardec, na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, apresenta a obra como o “roteiro seguro para a felicidade vindoura”, ou seja, nem tudo está em constante mudança e existem verdades eternas. O ensino moral é nossa maior tábua de salvação. O ensinamento do Cristo continua e continuará sendo nossa principal referência para a vida e passar isso adiante, para nossos filhos e netos é um dever do qual jamais deveremos nos desvincular. Essa é a nossa maior garantia de um futuro realmente regenerador

